segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cabloco Bizarro(Febronio Índio do Brasil)







Na década de 1920, o Brasil elegeu seu grande inimigo: era negro, ho­mossexual, pobre, louco, assassi­no. Seu nome: Febrônio índio do Brasil, acusado de matar e violentar meninos (Os corpos de suas vítimas foram encontrados no ilha do Ribeiro, no Rio de Janeiro, nus, tatuados com as letras DCVXVI, e com marcas de violência sexual e estrangulamento)..

Autodenominado "o filho da luz", epíteto que tatuou no próprio peito, escreveu durante uma de suas prisões "As Revelações do Príncipe do Fogo", uma espécie de evangelho readaptado cheio de frases desconexas como "Eis-me ó nuvens fiéis do Santuário do Tabernáculo do Testemunho".
O livro teve sua edição queimada pela polícia e tornou-se raridade existente apenas nos relatos de gente como o historiador e crítico literário Sérgio Buarque de Holan­da, que chegou a adquirir a obra das mãos do criminoso quando es­te, ainda em liberdade, vendia sua criação nas ruas do Rio.



Febrônio nasceu  provavelmente em 14 de janeiro de 1895. Era o segundo de catorze filhos do casal Theodoro Simões de Oliveira e Reginalda Ferreira de Mattos. Seu provável nome verdadeiro era Febrônio Ferreira de Mattos, mas ele ganhou fama como Febrônio Índio do Brasil, o Filho da Luz.


 Febrônio começou a delinquir entre 1916 e 1929,  tendo dezenas de passagens pela polícia por fraude,chantagem,suborno,furto, roubo e vadiagem.
Numa dessas detenções,  Febrônio, que passara a ler a bíblia e durante a noite, teve uma visão na qual uma mulher de longos cabelos loiros o escolheu como o Filho da Luz, título que lhe trazia a incumbência de declarar a todos que Deus não havia morrido. Segundo a visão, ele deveria tatuar-se e tatuar meninos, ainda que com emprego de força física, com o símbolo D C V X V I, que significava Deus, Caridade, Virtude, Santidade, Vida, Ímã da vida. A tatoo serviria como amuleto para aqueles que a exibissem no corpo. Agindo conforme o que lhe fora ordenado na visão, Febrônio tatuou a frase Eis o Filho da Luz em seu tórax e, em toda a circunferência de seu tronco, as letras D C V X V I. Febrônio, então, começou a escrever o livro As revelações do principe do fogo , que foi publicado em 1926, o qual traz mensagens incompreensíveis, tiradas dos mistérios oníricos que lhe eram transmitidos.

Em 1927, estando mais uma vez preso, Febrônio subjugou sexualmente dois colegas de cela na 4ª Delegacia Auxiliar do Rio de Janeiro. Ao investir contra um terceiro, o menor Djalma Rosa, encontrou sua resistência e o espancou até a morte.
Posto provisoriamente em liberdade, Febrônio voltou a ser preso no mesmo ano, no morro do Corcovado, enquanto dançava, completamente nu e com o corpo todo pintado de amarelo, na frente de uma criança aterrorizada que estava amarrada ao tronco de uma arvore. Como ouviu de testemunhas que Febrônio, mais cedo, havia sido flagrado cozinhando, na casa em que era inquilino, uma cabeça humana furtada do cemitério(Esperto, contou à dona do lu­gar que se tratava de "estudo: ia cozinhá-la, limpá-la, reduzi-la à caveira para experiências do seu gabinete dentário").
Há possibilidade de a cabeça ser de um dentista desapareci­do, de quem Febrônio passou a usar o diploma. 
, o delegado o encaminhou outra vez para o Hospital Nacional de Psicopatas.




O criminoso volta a ser notícia em 1935, ao fugir do hospício ca­rioca de forma espetacular: pula o muro, engana os guardas e sai an­dando .


A FUGA
"Febrônio Ferreira de Matos índio do Brasil, evadido ultimamente do Manicômio Judiciário, onde se encontra reco­lhido como enfermo de­linqüente incurável, é sem dúvida afigura cri­minal que mais profun­da impressão deixou no país, tal a singularidade de seus delitos (...)"
Trecho de reportagem da revista "A Noite Ilustrada" de 12/2/1935


Se em 1927, ao ser julgado, Febrônio índio do Brasil foi a sensação da imprensa, em fevereiro de 1935 ele ganhou definitivamente o status de "inimigo público número l" ao fugir do Manicômio Judiciário, no Rio.
No início de uma manhã daquele mês, ele roubou um uniforme dos guardas e pu­lou o muro, enganando to­do mundo. Conseguiu abrigo numa casa na periferia do Rio, mas acabou sendo denun­ciado pelo dono do lugar, que havia visto uma foto de Febrônio. Ao todo, a fuga durou 24 horas, o único momento de liberdade em mais de 50 anos de interna­ção no manicômio.
Ao ser capturado, provo­cou verdadeiro tumulto na cidade, como pode ser com­provado numa reportagem da época no jornal "O Glo­bo": "Em pouco, a delegacia do bairro era invadida pelos curiosos. Escada, corredo­res, tudo era invadido, dada a pressão da curiosidade popular (...)"


De volta ao manicômio, só sairia dali morto, em 1984, após mais de 50 anos de tratamentos de choque, drogas fortíssimas e maus-tratos. Imagens suas já velho revelam um homem deteriorado, senil.


"Exame mental - (...) Toda sua vida tem sido, como se sa­be, uma série ininterrupta de reações anti-sociais. Ele rou­bou, seduziu, matou, lançando mão de todos os ardis; muda constantemente de nome; a cada momento falseia a verdade, sendo difícil saber quando ele é exato. Está preso, responde a vários processos, mas parece estar no melhor dos mundos."
Extrato do laudo médico de Febrônio realizado pelo dr. Heitor Pereira Carrilho, no Rio, em 20/2/1929
Foto de um sobrevivente a ataque de Febrônio, que tatuou no
rapaz o misterioso DCVXVI, que o criminoso dizia significar "o Deus vivo"; a marca foi também tatuada no peito de Febrônio, abaixo da frase "Eis o filho da luz"

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