sexta-feira, 24 de setembro de 2010

sobre as musicas do legião

Antes de qualquer outra coisa, preciso deixar claro que adoro Legião. Eu diria até mesmo que sou um fã, se não fosse por dois motivos. O primeiro é o fato de eu estar meio enjoado de Legião. Culpa não tanto das músicas, mas sim da maior maldição dessa banda: as rodinhas de violão.
Seja na praia, na fazenda ou naquele churrasco, rodinhas de violão são altamente questionáveis, principalmente uma vez que o gosto musical das 2 ou 3 pessoas que sabem tocar violão no recinto costumam ser também altamente questionáveis. Em meio a isso, sobram poucas unanimidades. E é aí que entra o Legião.
O problema maior nem é só a repetição eterna das seis mesmas músicas da banda, mas todo o ambiente: o cara que está com o violão tentando acompanhar o principal mas sempre fica atrasado, a menina cantando aos berros (e que geralmente é a que menos conhece a letra), o seu amigo bêbado dormindo e babando no seu ombro e a maconheira filosofando sobre aqueles versos.
O que me lembra de outra coisa: por mais que os fãs queiram pensar isso, nem todas as letras do Renato Russo[bb] são geniais.
Em algumas das músicas, dá pra perceber que a letra sofreu uma leve djavanização. Por exemplo:
“Sem essa de que estou sozinho
Somos muito mais que isso
Somos pingüins, somos golfinhos
Homem, sereia e beija-flor
Leão, leoa e leão-marinho”
Caramba, hein. Somos pingüins, golfinhos, homem, sereia, beija-flor, leão, leoa, leão-marinho. Resumindo: nós somos a Arca de Noé com uma leve dose de ácido.
E o nome da música desses versos é Vamos Fazer Um Filme. Sim, por essa letra vamos fazer um filme do David Lynch[bb], né?
Mas enfim, o segundo motivo de eu não dizer que sou fã do Legião Urbana é porque… bem, os fãs do Legião são muito chatos. Demais.
Fã já é uma coisa naturalmente irritante. Fã do Los Hermanos[bb] (e nesse grupo sim vocês podem me incluir), mais irritante ainda (admito). Mas fã de Legião Urbana leva tudo além. Não bastasse ouvirem Ainda É Cedo em loop, ainda fazem questão de enxergar uma profundidade que não existe nas letras e a execrar qualquer um que não ache a banda e o Renato Russo a coisa mais genial que já passou pela Terra.
Por favor, né? Menos.
E se os fãs de Legião Urbana são chatos, os não-fãs são quase tão ruins. Nesse caso não me refiro a quem não goste da banda, mas ao sujeito genérico que curte uma coisa ou outra, mas não é tão viciado no som deles. O tipo de gente que adora ouvir Que País É Este? só pra poder gritar no refrão “É a porra do Brasil!”.
Mas vamos deixar os fãs e leigos de lado e tentar refletir um pouco sobre algumas músicas do Legião. Começando por Faroeste Caboclo.
Eu, particularmente, gosto da música, sei a letra de cor e tudo (o que merece algum mérito, já que são mais de 9 minutos). Mas tem alguma coisa errada ali. Uma coisa chamada João de Santo Cristo.
O que muita gente não percebe em princípio é o quanto o João é vacilão.
Reparem nesse trecho da letra: “o Santo Cristo há muito não ia pra casa / e a saudade começou a apertar / Eu vou-me embora, vou ver Maria Lúcia / Já tá em tempo de a gente se casar”. O desfecho disso vocês já sabem: chegou lá e ela tava embuchada do Jeremias, com quem tinha se casado.
Jeremias é um filho da mãe? Com certeza. Maria Lúcia é meio vadia? Sem dúvida. Mas convenhamos: o João deu mole.
Como é que o cara fica longe de casa tempo o bastante pra mulher dele casar com outro e engravidar? Esse tipo de coisa não acontece do nada. O Jeremias deve ter investido um tempinho no flerte, e casamento não é coisa do dia pra noite.
João tava trabalhando muito? Pode até ser, mas isso não é desculpa pra ficar tanto tempo longe da mulher. O Jeremias também era traficante de renome, organizou a Rockonha e desvirginava mocinhas inocentes, mas mesmo assim tinha tempo para ter uma vida pessoal, uma esposa.
Administração de tempo, João. Esse é o segredo.
Você vacilou, acabando levando bola nas costas. E tiro nas costas. Viu o tamanho da merda que você provocou?

Bola nas costas?
A-DO-RO!
Por falar em protagonista bundão, o que dizer do João Roberto, de Dezesseis? Era o maioral, o cara fodão, e por causa de um pé na bunda se permitiu falhar na curva da morte durante um pega? Porra, Johnny!
Se você era tão foda, logo ia recuperar a mulher, ou arrumar outra. Não precisava dessa frescura.
E foi assim que, sem querer, a Legião Urbana criou em 1996 o primeiro emo do Brasil.
Mas não são apenas os protagonistas masculinos das músicas do Legião que têm problemas. Se o Santo Cristo era vacilão e o Johnny um emo, pior era aquela escrota poser da Mônica. E o pior é que a música meio que sempre defende o lado dessa chata.
Pra começar, na hora que o Eduardo está acordando, ela está tomando um conhaque em outro canto da cidade. Olha, eu não sou moralista nem nada, mas beber conhaque às 9 da manhã é um pouco de exagero. Se está virada da noite anterior, já era hora de parar. Se simplesmente começou a beber cedo, a situação é ainda pior, e a Mônica está caminhando para um alcoolismo perigoso. A Ke$ha[bb] começou assim.
Mas encher a cara é o de menos, o pior é ela tentando tirar o Eduardo de uma adolescência normal para uma vida pseudo-intelectual vendo filmes do Godard[bb], falando de Bandeira, Bauhaus e dos Mutantes.
Claro, todas essas coisas são legais, mas ela pode deixar o moleque jogar futebol de botão com o avô também. Botão é divertido, e não é muito comum jovens de 16 anos que dão atenção e passando um tempo com os avós. O Eduardo parece ser um sujeito legal, e a Mônica podia retribuir isso do jeito que um adolescente deseja: trepando com ele e não enchendo o saco depois.
Garanto que ele não ia reclamar.
E no fim quando o filho fica de recuperação, ainda chamam de “filhinho do Eduardo”. Por que não chamar de “filhinho da Mônica”? É mais fácil ele ter se dado mal na escola por ter bancada um pedante esnobe e enrolado nas provas do que por ter vivido um esquema escola-cinema-clube-televisão.

Eduardo e o vovô na maior curtição sem a chata da Mônica por perto.
É difícil achar alguma música do Legião que não tivesse um personagem disfuncional. Até Meninos e Meninas. Nada contra alguém gostar tanto de meninos e meninas. Mas porra, gostar de São Paulo é um puta mau-gosto, hein?
Por isso que Renato Russo é injusto consigo mesmo quando canta em Perfeição para brindar à estupidez de quem cantou essa canção. Estúpidos eram os personagens das suas músicas e não ele.
Ou não? Será?
Ainda é cedo pra dizer.
PS: Para os fãs que estão pensando em me xingar nos comentários: brigar pra que, se é sem querer?

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