domingo, 31 de outubro de 2010

Livro de Lobato pode ser banido por racismo

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Conselho de (des)Educação quer proibir obra da turma do Sítio do Picapau Amarelo nas escolas devido a referências a Tia Nastácia e sua cor em comparação com animais.

Rio - As aventuras da turma do Sítio do Picapau Amarelo poderão ser banidas das salas de aula. O Conselho Nacional de Educação (CNE) quer proibir nas escolas públicas do País o livro ‘Caçadas de Pedrinho’, um clássico da literatura infantil escrito por Monteiro Lobato. Os 12 conselheiros do órgão acataram por unanimidade denúncia da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, que considerou a obra racista. Conforme parecer do Conselho, o racismo estaria na abordagem da personagem Tia Nastácia e referências a animais, como urubu e macaco.
Publicado em 1933, o livro narra as peripécias de Pedrinho à procura de uma onça pintada. Em um dos trechos da obra que motivou a denúncia o escritor diz: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão”. De acordo com a autora do parecer, Nilma Lino Gomes, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os exemplares devem ser retirados das escolas ou adotados desde que a obra traga nota sobre os “estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura”.
Para entrar em vigor, o parecer precisa ser homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Em nota, o Ministério da Educação (MEC) informou que o ministro vai consultar a Secretaria de Educação Básica, responsável pela seleção dos livros do Programa Nacional do Livro Didático. A obra foi distribuída pelo próprio MEC a colégios de Ensino Fundamental pelo Programa Nacional de Biblioteca na Escola. O ministério não disse quantos livros foram entregues.
Para a educadora Sônia Travassos, especialista em Literatura Infanto-juvenil pela UFRJ, a proibição é absurda. “Achava que já tivéssemos superado a censura com o fim da ditadura. Não é possível que alguém pense em impedir a circulação dos livros do maior escritor de literatura infantil que o Brasil já teve”, criticou. Estudiosa da obra de Monteiro Lobato, a professora defende a discussão da obra em sala de aula. “Se o livro está na escola, cabe ao professor, mediador da leitura, oferecer elementos, informações, sobre o contexto em que ele foi escrito”, disse. Sônia Travassos lembra que a Tia Nastácia é querida por todos do Sítio, participa da vida social da família e tem espaço para expressar sua cultura.
“Os alunos têm o direito de ler os livros de Lobato: livros que abrem as portas do imaginário, apontam críticas sociais e só têm a acrescentar na formação leitora das crianças”, defende a educadora.

Município vai manter a obra

Enquanto o MEC avalia a recomendação do CNE, a Secretaria Municipal de Educação do Rio informou que continuará adotando as obras de Monteiro Lobato. Segundo a secretaria, o uso da obra, “é sempre uma oportunidade para que o tema do preconceito seja trabalhado”.
O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Rio, Victor Notrica, reprova o veto à obra de Lobato: “O Sinepe-Rio é contra qualquer cerceamento de leitura de autores consagrados. Vetar a obra de Monteiro Lobato é uma violência. A criança aprende muito lendo Lobato. Defendemos a liberdade de leitura, com orientação”.

Frases

“Não vai escapar ninguém — nem Tia Nastácia, que tem carne preta. As onças estão preparando as goelas para devorar todos..”
Fala da personagem Emília num trecho do livro

“Tia Nastácia (...) trepou, que nem uma macaca de carvão, pelo mastro de São Pedro acima (...) parecia nunca ter feito outra coisa na vida”
Trecho do capítulo ‘O assalto das onças’

“A boneca fez um muxoxo de pouco-caso. Depois, voltando-se para Tia Nastácia: — E você, pretura?”
Trecho do mesmo capítulo

“Tenha paciência — dizia a boa criatura. —Agora chegou a minha vez. Negro também é gente, Sinhá...”
Tia Nastácia no último capítulo do livro

Especialista na obra do autor condena censura

Especialista na obra de Lobato a escritora Márcia Camargos saiu em defesa do autor. Ela lembra que a obra foi escrita décadas antes da adoção de normas de políticas públicas de relações étnico-raciais. “Os professores não são incapazes nem despreparados para lidar com situações deste tipo. Eles têm bom senso e critérios de julgamento para elaborar as informações”, afirma.
Mônica ressalta que a obra é pioneira por trazer Tia Nastácia como uma das protagonistas. “Censurar um clássico deste quilate significa abrir um perigoso precedente, retroceder aos tempos obscurantistas da censura”, diz.

Fonte: http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/10/livro_de_lobato_pode_ser_banido_por_racismo_120823.html

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