quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ê Povo do "Pau Grande"


O alongamento peniano é uma tradição entre os índios da família lingüística tupi-kawahib. Originalmente, servia para eliminar eventuais divergências quanto a identificação visual dos indivíduos na floresta. Os kayapó fazem crescer os lábios inferiores, os erikbatsa aumentam o lóbulo das orelhas. São os “beiços-de-pau” e os “orelhas-de-pau” – apelidos que receberam de outros índios e dos brancos. Entre os piripkura, a identificação visual é o pênis avantajado sob um grande protetor feito de palha. Daí as piadas elogiosas de “tribo do pau grande” ou “caralhudos”.

São abundantes e detalhistas os laudos etnográficos, microfilmes e Relatórios do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e da Funai, desde o início do século, nos trabalhos dos etnólogos Curt Nimuendaju e Claude Lévi-Strauss, os textos de Roquette-Pinto e do marechal Cândido Rondon, que registram e reiteram como hábito entre os diversos grupos étnicos da família tupi kawahib utilizar protetor peniano com arestas de tamanho avantajado, o que causava impacto nos primeiros contatos e comentários por serem considerados “bem-dotados”. Mas não é só o “protetor” que é avantajado.
Que vida do caralho
Não se sabe a fórmula que usam – um conhecimento tradicional protegido pela legislação internacional que, no futuro, poderá render bom dinheiro para esses índios. Mas o segredo pode estar na poderosa formiga “tocandira”, comum na Amazônia. Conta-se em Rondônia que, desde pequenos, os curumins passam por longos e exaustivos rituais de iniciação. Durante o processo, não se sabe com que freqüência ocorre, as formigas são usadas para “picar” o pênis a ser alongado. Esticam o órgão com as mãos e colocam formigas sobre ele. Quando irritada, a tocandira produz um ruído estridente e pica por um aguilhão abdominal ligado a uma glândula de veneno. Pode ser o veneno, de base protéica e que inclui hialuronidase e fosfolipase A, o segredo. Mas ainda não foi provado cientificamente. O que se sabe, pelos relatos orais, é que a picada é muito dolorosa, e faz dilatar os músculos genitais. Repetidas vezes, o órgão ganha tamanho e volume. As pessoas que me contaram, em Rondônia, essa fórmula, me aconselharam a não tentar isso em casa.

Há também uma mistura de ervas que é usadas para massagear o pênis – procedimento terapêutico utilizado no local da picada das formigas. As plantas podem servir como dilatadores do órgão ou apenas para fazer passar a dor. Enquanto esteve com a equipe da Funai no acampamento, logo após o contato, o índio Tucan não se distraiu de cuidar de sua identificação étnica. Segundo relato dos integrantes da Frente de Proteção Etno-Ambiental Madeirinha, “todo dia, à tardinha, ele pegava um pouco de água morna em uma cumbuca, colocava umas folhinhas lá e ficava massageando o pênis, esticando, balançando, tratando”, relata um dos integrantes da equipe. Mesmo se tornando famoso por causa da triste história de massacre do seu povo, Tucan parece não querer deixar de lado a vaidade peniana, marca registrada de seu povo.

TRIP+

Índios Isolados no Brasil
Eles existem como gente invisível, e vivem em fuga a vida na floresta. Se escondem nas sombras, e podem, por exemplo, passar anos em uma caverna praticamente sem sair dela – como aconteceu com uma família de índios ava-canoeiro, a 200 km de Brasília, nos anos 1980. Nas áreas mais remotas da selva amazônica vivem índios que, de forma heróica, se afastam do contato e do convívio com a população que se instalou no Brasil. São os índios isolados – também chamados, pelos antropólogos, de comunidades “autônomas”.

De acordo com Elias Bigio, coordenador Geral de Índios Isolados da Funai, há hoje 71 grupos indígenas vivendo nessa situação. Poucos anos atrás a Funai só tinha o conhecimento de cerca de 40 povos. A maioria desses índios sabe da existência do homem branco e até já tiveram encontros acidentais, mas preferem ficar escondidos. Podem ser aldeias com centenas de integrantes, ou, nos casos mais trágicos, um, dois, três indivíduos, uma família apenas que tenha conseguido sobreviver à carnificina em que se transformou, em fatos reais, a ocupação da Amazônia. Este é o caso dos dois piripkuras contatados em agosto, assim como dos kanoê e akunt’su, em Rondônia, os juma, no Amazonas, os ava-canoeiros, em Goiás e Tocantins, entre alguns outros.
Em 1995, depois de anos se metendo nos restos de matos de fazendas no sul de Rondônia, o sertanista Marcelo dos Santos conseguiu encontrar e estabelecer contato com uma família de índios kanoê. Eram nada mais do que cinco pessoas: uma mãe, um filho homem e uma filha mulher – já mãe de um pequeno menino–, e uma sobrinha. Poucos anos depois, sobraram só os dois irmãos, o rapaz Pura e a moça Tiramantú. Ela conseguiu engravidar outra vez, com algum homem que não diz quem é, e já teve mais um filho – o outro que tinha morreu de malária, junto de sua avó. A índia prima foi morta pelos vizinhos índios akunt’su. Quando tiveram confiança na equipe da Funai, os kanoê guiaram os sertanistas barbudos até encontrar outra tribo que vivia espremida entre os caminhos de madeireiros: sete índios Akunt’su. Até hoje, os dois homens akunt’su carregam pedaços de chumbo no corpo – a marca que ficou dos massacres que extinguiram o povo. Uma das índias dessa tribo morreu quando uma árvore caiu sobre a maloca, dois anos após o contato.
Até hoje, os dois homens akunt’su carregam pedaços de chumbo no corpo – a marca que ficou dos massacres que extinguiram o povo
Perto dessas duas tribos, também na região de Corumbiara, embaixo da fumaça das queimadas e no meio de imensos pastos e uma multidão de bois brancos, há uma bola de mato que é um verdadeiro portal para outras eras da humanidade. Em oito mil hectares de mata nativa, na Terra Indígena Tanaru, vive o povo de um homem só. Esse homem é chamado de “índio do buraco”, e ele não quer saber nada de entrar em contato com gente de outros povos – inclusive já flechou sertanistas da Funai quando se aproximaram dele. O “Índio do buraco” é o que lhe sobrou de um povo isolado que foi massacrado nos anos 1980 e 1990, assassinado e envenenado por arsênico misturado a brindes de açúcar e farinha ganho das mãos de fazendeiros. Último representante de uma tribo totalmente desconhecida, com hábitos e costumes próprios (como o buraco místico que faz dentro de sua oca), ele é, também, o retrato da desumana destruição da floresta.
Não é só no Brasil que existem índios isolados, apesar de provavelmente ser aqui que exista a maior quantidade de povos nessa condição no mundo inteiro. Criado por Sidney Possuelo, em 1989, o departamento, mesmo capenga em recursos, é uma referência mundial. Ao menos no que toca a ideologia de se tentar proteger essas tribos. No Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guianas, Suriname, todas as fronteiras do bioma amazônico, ainda existem índios isolados. Ao contrario do que ocorre no Brasil, por lá eles vivem ser terras protegidas. Para tentar expandir essa política, a ONU criou o Comitê Indígena Internacional para a Proteção de Povos em Isolamento Voluntário e em Contato Inicial (Cipaci). Antes tarde, ao menos na lei começa-se a tentar proteger essas pessoas da floresta.

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